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Leaders to Watch 2023
Todos os anos, damos reconhecimento a pessoas em ascensão na área de inovação social que estão tratando dos desafios mais urgentes da atualidade. Do ativismo social à criação de soluções baseadas em IA, esses líderes estão revolucionando as áreas em que atuam e trabalhando por um futuro melhor para todos.
adenike adeyemi
Um catalisador da cultura empreendedora da Nigéria
Com um espírito brilhante, curiosidade e paixão por ajudar os outros, Adenike Adeyemi trabalha para apoiar empresas pequenas e crescentes como diretora executiva da FATE Foundation. É a função perfeita para alguém como ela combinar os negócios e o impacto social.
Leitura em cinco minutos
Desde que ela consegue se lembrar, Adenike Adeyemi sempre soube se conectar com pessoas de diferentes origens. Segundo ela, essa tendência tem raízes na infância dela com um pai iorubá e uma mãe meio serra-leonesa e meio efique. "Essa origem multiétnica me tornou mais consciente do mundo fora da nossa comunidade local."
Quando ela se mudou para o estado de Oyo para estudar em um internato federal para meninas, a comunidade dela ficou mais diversificada. "Era um caldeirão onde eu estudava com colegas de diferentes origens sociais, étnicas, de renda e religiosas." Essas primeiras experiências mostraram para ela que sempre é possível chegar a um consenso. "Somos todos humanos e sempre há algo que pode conectar você a alguém."
A descoberta do mundo sem fins lucrativos
A afinidade de Adenike com conexões e comunidades aumentou durante e após a universidade, quando ela começou a trabalhar com organizações sem fins lucrativos no Nigerian National Youth Service Corps (NYSC). O NYSC é um programa obrigatório criado pelo governo nigeriano que envolve recém-formados no desenvolvimento nacional. Na época em que Adenike estava procurando uma vaga para o NYSC, o tio dela ofereceu uma oportunidade em uma organização sem fins lucrativos chamada West African NGO Network (WANGONet).
"Para mim, foi fundamental acompanhar o papel da tecnologia para conectar pessoas a recursos e democratizar o conhecimento."
"Anteriormente, o trabalho da WANGONet era criar páginas da Web para outras organizações sem fins lucrativos e ensinar as instituições a usar ferramentas de software básicas para encontrar parceiros, voluntários e financiamento." Era um trabalho empolgante, mas diferente do que os colegas dela procuravam. "Naquele ano, eu ganhava só uma fração dos salários dos meus amigos. Mas estava conectando as pessoas com conhecimentos, informações e tecnologias. Além disso, eu tinha meu próprio endereço de e-mail. Era uma grande conquista."
Mais do que apenas um endereço de e-mail, a WANGONet deu a ela uma visão de como a tecnologia e a informação andam de mãos dadas para capacitar as pessoas. "Foi fundamental para mim acompanhar o papel da tecnologia para conectar pessoas a recursos e democratizar o conhecimento. Percebi que, ao facilitar e disponibilizar acesso e conhecimento, poderíamos dar às organizações a oportunidade de se expandirem."
Iniciar, crescer, dimensionar
Atualmente, Adenike é diretora executiva da FATE Foundation, o programa de incubadora e aceleradora de negócios mais proeminente da Nigéria, que tem como objetivo permitir que empreendedores em estágio inicial comecem, cresçam e dimensionem os próprios negócios. As ofertas da fundação incluem cursos, eventos, informações e apoio financeiro, tudo para promover o potencial da cultura empreendedora nigeriana. "Acreditamos que as empresas pequenas e em crescimento são as que impulsionam o país. Na Nigéria, elas criam aproximadamente 80% dos empregos e contribuem com quase 50% do PIB, apesar de um ambiente macroeconômico desafiador."
Quando se trata do ambiente de negócios mais amplo, Adenike observou que a FATE também precisa se concentrar na legislação. "Não conseguimos apoiar nossos empreendedores para além do ambiente político atual. Por isso, na minha visão, também é importante analisar como podemos oferecer insights úteis aos formuladores de políticas." Com esse objetivo em mente, a FATE cria relatórios sobre o estado do empreendedorismo na Nigéria com pontos de dados impactantes e relevantes para os formuladores de políticas.
Com o crescimento rápido do público, é importante para Adenike manter um toque humano na forma como a FATE interage com os participantes do programa, com foco no aumento do número de ofertas digitais inteligentes. Quando a FATE foi fundada, há mais de 20 anos, os métodos eram manuais. O próprio fundador encontrava empreendedores individuais e os conectava pessoalmente com pessoas ou informações relevantes. Atualmente, os programas da fundação alcançam mais de 245.000 empreendedores em 31 estados. Com o sucesso, os processos manuais deixaram de ser sustentáveis. Ainda assim, a FATE valoriza as conexões individuais, por isso Adenike e a equipe dela criaram novas ferramentas digitais para a comunidade. "Quero poder acompanhar a jornada de qualquer empreendedor até hoje e entender a experiência desse indivíduo. E o mais importante: como podemos conectar ele com as pessoas ou os recursos certos."
Criação de conexões
Com o objetivo de expandir a FATE, apoiar empreendedores e impactar as políticas públicas, Adenike é claramente uma pensadora ousada e com visão de longo prazo. Nenhum problema é grande demais para ser resolvido. "Até uma semana pode fazer a diferença na vida de um empreendedor: o momento de descoberta pode transformar os negócios de alguém."
Isso é o que a motiva, mas ela sabe que não poderia ter feito nada disso sozinha. "Posso ter sonhos, motivação, inspiração e empolgação, mas, sem uma equipe motivada, eu não iria muito longe."
"Acredito que estamos sempre a apenas uma pessoa de distância das informações de que outra pessoa precisa para ter sucesso."
Apesar do vasto conhecimento e experiência, Adenike sabe que nunca vai ter todas as respostas e recursos. Mas, segundo ela, "provavelmente conheço alguém ou sei de alguém que conhece alguém capaz de fazer uma conexão". Dessa forma, ela é uma catalisadora, gerando impacto, resultados e conexões. "Acredito que estamos sempre a apenas uma pessoa de distância das informações de que outra pessoa precisa para ter sucesso."
Fotografia de Taiwo Aina
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Angela Siefer
Jornada rumo à igualdade digital: uma comunidade por vez
Angela Siefer sempre teve uma fome insaciável de fazer a diferença no mundo. Hoje ela é uma catalisadora de mudanças como diretora da National Digital Inclusion Alliance, uma organização que promove a igualdade digital. Ela trabalha com mais de mil afiliados para entender as prioridades da comunidade e definir políticas em nível nacional.
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Em retrospecto, Angela Siefer sempre quis tornar o mundo um lugar melhor. O único problema era que ela não sabia como. Nascida e criada em Lima, Ohio (EUA), em uma família de classe média, ela foi a primeira entre os parentes a fazer faculdade. Na Universidade de Toledo, ela estudou Sociologia, e admite que era porque não sabia em que se formar: "Tantas pessoas parecem ter o futuro todo planejado. Eu não era assim". Mesmo sem ter certeza do rumo que deveria tomar, os valores sólidos de comunidade e a persistência dela abriram caminho.
No final, a dedicação a levou ao problema crescente da desigualdade digital. Na pós-graduação, ela participou de uma pesquisa sobre como a universidade poderia dar melhor suporte à comunidade local. Enquanto realizavam pesquisas e passavam tempo com as pessoas na comunidade, ficou claro que acessar e compreender a tecnologia era uma grande dificuldade. "Acho que foi assim que acabei no caminho em que estou: ouvindo a comunidade."
Ganhar confiança
Logo depois de se formar, ela usou seus conhecimentos para liderar a Ohio Community Computing Network (OCCN), uma organização criada em um cenário digital em constante mudança que oferecia soluções para um número cada vez maior de pessoas com problemas nesse assunto. Na época, a área era chamada de tecnologia comunitária. Atualmente, é conhecida como inclusão digital.
"A OCCN existiu porque um advogado de assistência jurídica convenceu a Comissão de Serviços Públicos de Ohio de que o acesso e uso da tecnologia pela comunidade mereciam apoio financeiro." Ainda havia uma questão: de onde vem o dinheiro para resolver esses problemas urgentes? Hoje ela continua a enfrentar essa incerteza com determinação. Desde os primeiros dias na OCCN, Angela teve um papel fundamental na luta por bilhões de dólares para promover a igualdade digital.
"Essencialmente, a desigualdade digital é um problema humano, e precisamos de seres humanos para resolver isso."
Ainda assim, ela não sentia que a própria experiência era suficiente na época. Ela recorda como foram estressantes as primeiras vezes que falou com legisladores em Washington D.C. sobre problemas de igualdade digital. "Eu nunca havia estado naquela posição, e depois ainda conseguia sentir uma enorme pressão em cima dos meus ombros. Não queria cometer erros."
Hoje ela se sente mais segura da própria posição. "Agora tenho a confiança que não tinha antes. Consigo dizer 'isso é o que eu vejo nesses programas locais de igualdade digital, e isso é o que eles precisam'. Se eu continuo repetindo, às vezes as pessoas ouvem.
Uma abordagem abrangente de igualdade digital
Hoje em dia, Angela comanda a National Digital Inclusion Alliance (NDIA), uma organização sem fins lucrativos que fundou em 2015. Ela e outros profissionais da área perceberam que o movimento crescente de igualdade digital precisava de um espaço próprio para criar práticas recomendadas e desenvolver uma comunidade. "Parecia uma possibilidade improvável, mas também vimos a realidade das pessoas na área que precisavam de mais recursos." Então, a NDIA é uma resposta abrangente à inclusão digital, que considera a disponibilidade e a viabilidade da Internet, o acesso a dispositivos, as habilidades digitais e o suporte técnico.
Nos últimos oito anos, e principalmente desde a pandemia da COVID-19, a NDIA conseguiu incluir mais de mil afiliados e conquistou um valor impressionante. Entre os êxitos recentes, está o desenvolvimento de definições padrão para "inclusão digital" e "igualdade digital" nas leis congressionais dos EUA e a ampliação dos programas de ajuda. "Uma das nossas maiores conquistas foi o investimento público de US$ 2,75 bilhões para a Lei de Igualdade Digital de 2021."
O espírito de Angela é refletido na NDIA, já que a organização está sempre tentando identificar quem ficou para trás no mundo digital. Embora as barreiras gerais ao conhecimento e às ferramentas digitais sejam iguais, Angela explica: "Os detalhes são importantes, já que impactam nosso entendimento de certos problemas e determinam como encontramos as melhores soluções". Recentemente, a organização estendeu o suporte a comunidades rurais e indígenas. Ao focar as situações específicas delas, a NDIA também consegue ter insights mais amplos.
Sustentabilidade de longo prazo
De modo geral, os objetivos de Angela para o futuro se concentram em soluções nacionais de longo prazo. O próximo desafio é a questão da viabilidade da área de igualdade digital. "Vamos sempre precisar de subsídios para banda larga doméstica, treinamento em habilidades digitais, livros de navegação digital: o suporte técnico é contínuo. No entanto, se você não tiver recursos, o que acontece?"
A igualdade digital afeta tudo: "A economia, nossos sistemas sociais, o país inteiro". Dessa forma, Angela acha importante lembrar que: "Essencialmente, a desigualdade digital é um problema humano, e precisamos de seres humanos para resolver isso". Seres humanos com paciência, determinação e mente aberta, além das informações e dos recursos necessários para ajudar as pessoas que precisam.
Desde a família extremamente amorosa e compreensiva até a comunidade crescente da NDIA, Angela está profundamente agradecida. "Sempre fico impressionada que os membros da comunidade NDIA dedicam o próprio tempo para compartilhar experiências com as pessoas novas." Angela fundou a NDIA e criou essa comunidade, mas o movimento da igualdade digital continua a crescer. O poder está nas pessoas, nos "heróis" em todo o país que promovem a igualdade digital, diz ela. "As pessoas ao meu redor me dão força, não faço tudo isso por mim. Faço por elas."
Foto de Leonardo Carrizo, com fotos adicionais da Mike Sanchez
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Anthony Babkine
Ninguém tem sucesso sem a ajuda dos outros
O carisma e a energia de Anthony Babkine fazem dele a pessoa perfeita para transformar em realidade o sonho de oferecer oportunidades iguais no setor de tecnologia. Como cofundador e CEO da Diversidays, ele trabalha para promover a equidade no setor digital na França. Para esse líder, capacitar jovens talentos e desafiar estereótipos é uma jornada completa.
Leitura em cinco minutos
Anthony Babkine passou por um ponto de virada logo no início da carreira. Após alguns anos em uma trajetória de sucesso, ele olhou para o escritório e não reconheceu o mundo ao redor.
Anthony cresceu em Évry-Courcouronnes, um subúrbio 24 quilômetros ao sul de Paris, uma das cidades mais jovens da França e lar de inúmeras culturas. "Quando eu tinha 15 anos, era como se tivesse viajado o mundo três ou quatro vezes." Embora não tenha percebido na época, a diversidade de Évry era um dos maiores pontos fortes dele. "Agora entendo que o fato de ter crescido nesse ambiente cultural e etnicamente diversificado é algo que me enriquece. Mas demorei bastante para entender isso."
No período na escola, quando ele tinha dificuldade para controlar a própria mente rápida e ser um bom aluno, ele se lembra de sentir uma profunda síndrome do impostor. Mas algumas pessoas o apoiaram na época. "Minha mãe tirou folga do trabalho, uma organização sem fins lucrativos local me ajudou com aulas particulares e os professores dedicaram tempo extra para me orientar. Eu não teria conseguido sozinho."
Mudança de caminhos
Depois de entrar em uma das maiores agências de publicidade da França, as habilidades digitais foram fundamentais na experiência dele. "Naquela época, as mídias sociais estavam começando a crescer exponencialmente, e as empresas francesas precisavam de estratégias para representar melhor as marcas nessas novas plataformas." A perspectiva, o talento e o trabalho de Anthony rapidamente o levaram até o topo: "Assumi um cargo no comitê executivo e ocupei uma posição no programa de jovens talentos, mas percebi que faltava diversidade".
"Tudo começou quando entendi que minha maior força vem de onde cresci e da comunidade diversificada de que faço parte."
Sem uma equipe diversificada, políticas sociais de inclusão nem uma boa cultura interna, Anthony começou a pensar no próximo passo da própria carreira. "Eu tinha um ótimo salário, passei por uma grande mudança de carreira e investi muito tempo para chegar lá, mas tive que sair." A situação ajudou a revelar valores que ele queria seguir. "Você pode apenas se sentir mal ou pode agir. Eu não sabia por onde começar nem como fazer isso, mas sabia que precisava agir."
Essa mudança de foco transformou tudo para ele. "Tudo começou quando entendi que minha maior força vem de onde cresci e da comunidade diversificada de que faço parte."
Criação da Diversidays
Em 2017, junto com a amiga e colaboradora de longa data Mounira Hamdi, Anthony cofundou a Diversidays, "uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas de diferentes origens a entrar na crescente indústria digital". Isso envolve oferecer educação, informações, aconselhamento e oportunidades para indivíduos e empresas com três programas principais.
O programa Leadership ajuda empreendedores a fazer novos negócios, enquanto o Digital Clicks é uma iniciativa de educação que oferece requalificação profissional para pessoas que querem desenvolver habilidades digitais. Por fim, o Tech Your Place é voltado para empresas de tecnologia que precisam de insights para evoluir as próprias políticas de diversidade e inclusão. "Desde que iniciamos a Diversidays, ajudamos mais de 9 mil pessoas com desafios específicos e a serem mais confiantes e acreditarem em si mesmas com esses programas."
E os esforços delas estão valendo a pena. Anthony fala com orgulho sobre a iniciativa recente de fazer com que mais empresas priorizem a diversidade e a inclusão desde o início. "Nossa maior vitória foi fazer com que 12 das maiores empresas de capital de risco incluam uma cláusula de diversidade, equidade e inclusão nos pacotes de investimento." Dessa forma, para receber dinheiro desses fundos, as empresas precisam demonstrar práticas de diversidade.
Um sonhador pragmático
Realismo e praticidade são partes fundamentais não apenas do trabalho de Anthony, mas também da personalidade dele. "Acredito que, para mudar a situação em qualquer setor, mas principalmente no setor de tecnologia, é necessário ter ambição e talvez um pouco de insanidade. Mas também é preciso ter pragmatismo." Para ele, o ativismo social é fundamental: "No ano passado, fizemos um estudo que mostrou que 39% dos novos funcionários sofreram discriminação durante a integração em empresas de tecnologia". Estudos como esse possibilitam mudanças, mostrando uma imagem precisa da situação.
"Para mim, é muito importante medir o que fazemos e como as empresas agem para evitar o marketing disfarçado de ações sociais. Porque é fácil dizer 'queremos ser mais inclusivos'. É mais difícil definir o que isso significa e como avaliar esse compromisso."
Anthony sabe bem o que é se dedicar ao trabalho. Mas ele admite: "Essas desigualdades existem na França há décadas e estão muito arraigadas. Por mais que nossas convicções sejam firmes e haja uma mudança real, um desejo coletivo de mudar a situação, às vezes ainda é um pouco frustrante". Então de onde vem a motivação dele?
Mais uma vez, Anthony destaca os esforços e sucessos das pessoas ao redor dele. Por um lado, estão todas as mensagens que ele recebe dos participantes dos programas. "Ouvir de alguém que oferecemos as ferramentas ou a confiança para alcançar algo me faz pensar que estamos fazendo a diferença." Por outro lado, ele menciona o trabalho dos mais de 200 voluntários envolvidos na Diversidays. "A coisa mais valiosa que temos nas organizações sem fins lucrativos são os voluntários e as pessoas que querem ajudar. Temos pessoas que acreditam que outro modelo é possível."
Ele retorna ao lema dele: "Você não tem sucesso sem ajuda dos outros".
Fotografia de Yamandu Roos
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Bourhan Yassin
Aproveitamento do poder dos sons e da IA para proteger a biodiversidade
Provavelmente, o planeta nunca mais vai soar como hoje. Como CEO da Rainforest Connection, Bourhan Yassin sabe o valor e o poder de ouvir no combate às mudanças climáticas e ao declínio da biodiversidade. As ambições dele eram grandes antes mesmo de assumir a missão de preservar as florestas do mundo todo.
Leitura em cinco minutos
Longe das florestas tropicais com que trabalha hoje, Bourhan Yassin cresceu no Líbano durante a guerra civil que durou de 1975 a 1990. Quando criança, se deslocar entre abrigos antiaéreos era normal para ele, mas isso não o impediu de sonhar com o futuro. Motivado pela afinidade com a tecnologia, ele decidiu deixar o Líbano na virada do milênio e estudar nos Estados Unidos.
Na Baía de São Francisco, ele estava cercado pelo setor emergente de tecnologia e gostou da variedade e das oportunidades que surgiram com essa cultura. "Meu nicho eram startups e empresas pequenas, porque eu conseguia fazer uma grande diferença nesses ambientes e assumir várias funções diferentes."
"Era hora de fazer algo que me desse orgulho, associado a uma causa maior."
Ele trabalhou e chegou à liderança de algumas empresas de tecnologia antes de se mudar para Dubai, em 2014, onde cofundou a própria empresa. "Na verdade, era uma empresa de moda. Tenho certeza de que não dá para perceber, porque não sou um cara estiloso. Mas a empresa teve sucesso." No entanto, em pouco tempo, "comecei a ficar cansado de otimizar para aumentar a receita e o lucro", diz Bourhan. "Era hora de fazer algo que me desse orgulho, associado a uma causa maior."
Fazer novas conexões
Apesar de estar ansioso para assumir um trabalho mais significativo, o mundo sem fins lucrativos não era necessariamente uma prioridade para Bourhan. "Sempre pensei que as organizações sem fins lucrativos fossem mais voltadas a políticas e focadas principalmente na mudança social." A opinião dele mudou quando ficou sabendo da Rainforest Connection: uma organização sem fins lucrativos impulsionada pela tecnologia. São usados sistemas de monitoramento acústico para impedir atividades ilegais em florestas protegidas em tempo real e apoiar iniciativas de preservação atuais e futuras.
Na época, eles eram uma equipe muito pequena que precisava de um engenheiro e alguém com experiência em gestão e operações. Apesar da combinação aparentemente perfeita, levou algum tempo para ele ajustar a perspectiva que tinha sobre as organizações sem fins lucrativos. "Demorei um pouco para perceber que, na verdade, esse novo caminho estava em uma montanha completamente diferente: muito mais empolgante e significativa do que a última que eu estava tentando escalar."
Bourhan começou apresentando o próprio passado ao futuro da empresa. "Antes meu trabalho era gerar valor para os investidores, mas agora transformo essa abordagem para aproveitar ao máximo nossa missão e descobrir como resolver esses grandes problemas." Unindo a experiência dele em startups às iniciativas orientadas por um objetivo de uma organização sem fins lucrativos, a Rainforest Connection cresceu em termos de equipe, parcerias e, não menos importante, impacto.
Os sons são uma maneira única de entender um ambiente, porque você pode ouvir em qualquer direção.
Conheça o Guardian
A Rainforest Connection está gerando um impacto no combate às mudanças climáticas ao amplificar um dos nossos sentidos humanos inatos com a ajuda da IA. "Os sons são uma maneira única de entender um ambiente. Nossos olhos têm um campo de visão incrível, mas só podemos olhar para uma única direção. Então, para identificar algo à distância, a audição é o melhor sentido disponível."
O dispositivo Guardian funciona como os ouvidos da Rainforest Connection na floresta. "É um minicomputador que fica no topo da copa de uma árvore e escuta os sons da floresta 24 horas." Ele explica que o monitoramento 24 horas é a melhor maneira de detectar em tempo real a caça ou extração ilegal de madeira. "Em lugares como a Indonésia e o Brasil, o desmatamento é responsável por 70–80% das emissões de gases de efeito estufa. Ao conseguir identificar e localizar as atividades ilegais, alertando as autoridades quando estiverem ocorrendo, esses atos podem ser interrompidos antes mesmo que causem danos."
Inteligência artificial para um maior impacto
A detecção é apenas uma das peças do quebra-cabeça. "Não importa quantas anomalias são detectadas, se você não mantiver a saúde e a biodiversidade da floresta, tudo vai desmoronar." Na Rainforest Connection, Bourhan e a equipe usam modelos de IA para permitir iniciativas de preservação e manter a biodiversidade. "Quando se trata de sintetizar grandes quantidades de dados, a IA é muito importante, porque consegue concluir um processo que levaria meses em apenas alguns minutos."
Como os dispositivos Guardian estão sempre ouvindo, a Rainforest Connection criou um registro da paisagem sonora da floresta. "Temos cerca de 100 milhões de gravações, o que equivale a quase 190 anos de áudio contínuo. Acho que é, de longe, a maior coleção de paisagens sonoras do mundo, talvez da história. Adicionamos cerca de 1 a 2 milhões de gravações a intervalos de poucos dias."
Os conjuntos de dados estão abertos e disponíveis para qualquer pessoa, porque "a ciência é impulsionada por grandes quantidades de dados", diz Bourhan. A ideia é unir a coleta e a análise de dados, que geralmente atrasa as iniciativas de preservação. "Assim cientistas e pesquisadores podem focar as conclusões em vez da coleta de dados." A otimização da coleta ajudou, por exemplo, agências estatais e organizações sem fins lucrativos de Porto Rico que estão usando a plataforma para atualizar status de espécies, planos de gestão e seleção de novas áreas para proteção e compra.
Ouça com seus próprios ouvidos
Fiel à própria natureza ambiciosa, Bourhan tem uma perspectiva audaciosa do futuro da Rainforest Connection. "Um dia, com todos esses dados, vamos conseguir começar a classificar a biodiversidade no mundo todo e, com base nesse quadro, desenvolver uma maneira de recomendar ações."
Afinal, nossas florestas são um recurso natural precioso. "Elas são a tecnologia natural mais incrível. Não há tecnologia humana mais barata e com melhor absorção de carbono do que nossas árvores, solo e florestas."
O poder delas é algo que você lembra assim que ouve com os próprios ouvidos. "A cacofonia da floresta tropical é absolutamente incrível, e ouvir todas as diferentes espécies interagindo é inspirador. Precisamos fazer de tudo para preservar isso."
Foto de Andrew Loehman, com fotos adicionais da Rainforest Connection
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Carmen Correa
Promoção da igualdade de gênero
Durante a vida toda, Carmen Correa nunca duvidou do poder das mulheres de gerar impacto. Hoje Carmen atua como CEO da Pro Mujer, uma empresa social que trabalha para promover a igualdade de gênero na América Latina. Ainda há muito trabalho pela frente, mas Carmen tem visão e paixão para ampliar as iniciativas e, nas palavras dela, "alcançar todas as mulheres".
Leitura em cinco minutos
Carmen Correa sempre esteve rodeada de mulheres fortes: "Mulheres que quebravam barreiras, desafiavam estereótipos e, principalmente na minha família, cuidavam das outras pessoas". Em retrospecto, ela atribui o espírito empreendedor e a natureza atenciosa à própria criação.
Carmen cresceu no interior do Uruguai, no Departamento de Colônia, e se mudou para estudar em Montevidéu quando tinha só 6 anos. Mesmo assim, ela e o pai, engenheiro agrícola, viajavam pelo país com frequência. "Isso fez com que eu conhecesse pessoas de diferentes origens e aprendesse sobre a vida e realidade delas."
Com um dom para incentivar e tranquilizar as outras pessoas, o otimismo de Carmen contagia. Enfrentando grandes desafios, Carmen diz que "não é fácil, e você precisa ter proatividade. No entanto, também precisa ser bastante otimista. Sei que podemos desafiar a maneira como as coisas são atualmente e construir um mundo melhor, é claro que é possível".
Uma abordagem empreendedora
O otimismo de Carmen é bastante apropriado para quem tem metas tão grandes. Mas ela não é só otimista, Carmen trabalhou duro com uma mentalidade empreendedora para ter melhores resultados. Geralmente, ao lado de outras mulheres, o que é importante para ela. "Tive muita sorte. Em quase todos os lugares onde trabalhei, tive como chefe uma mulher muito forte."
Durante a carreira, Carmen fez sucesso e teve cargos de liderança em empresas sociais, como a Avina Foundation e a Endeavor Uruguay, para citar algumas. No entanto, quando ela reflete sobre isso, não enfatiza os cargos executivos. É o envolvimento que teve no início de um projeto que faz os olhos dela brilharem.
"As mulheres podem mudar a própria realidade e também a das pessoas ao redor delas."
"É claro que fazer parte de iniciativas desde o início é difícil, mas isso treina você a buscar formas alternativas de alcançar seus objetivos." Ela usa essa força diariamente ao trabalhar com mulheres em toda a América Latina. "Atualmente, as realidades e necessidades das mulheres são completamente diferentes. Precisamos analisar mais as interseccionalidades para desenvolver as ferramentas e os serviços corretos para realmente apoiar todos esses grupos."
Para todas as mulheres
Carmen entrou na Pro Mujer, uma organização que promove a igualdade de gênero na América Latina, em 2017. Nos últimos cinco anos, ela atuou em diversos cargos de liderança, e a nomeação recente como CEO é uma progressão natural para quem tem uma visão tão audaciosa. "Oferecemos inclusão financeira, oportunidades de qualificação e serviços de saúde às mulheres menos favorecidas. Assim elas podem alcançar o potencial máximo e ser agentes de mudança."
Ao proporcionar os recursos e as informações necessárias, Carmen observou como mulheres poderosas criam novas oportunidades para elas mesmas e a comunidade delas. Esse efeito dominó é a essência e o poder da Pro Mujer. "Quando podemos mudar a vida de uma mulher, mudamos a vida de uma família e a realidade da região em que ela vive. Essas mudanças vão persistir por gerações."
O impacto geracional não é uma meta pequena, e Carmen não para por aí. Uma visionária, explica: "Queremos alcançar todo mundo". Para realizar isso, ela pretende continuar a expandir. "Sempre tento permanecer em movimento, continuar crescendo."
Um longo caminho até a igualdade
Carmen tem imenso orgulho do trabalho que ela e a equipe tiveram para chegar até aqui, mas sabe que sempre vai precisar fazer mais. "Estamos nos esforçando pela igualdade, mas ainda há muito trabalho pela frente." Em vez de ficar desmotivada, Carmen vislumbra oportunidades onde outras pessoas encontram desafios.
A energia dela para continuar avançando vem das mulheres atendidas pela Pro Mujer. "São elas que alavancam o próprio sucesso. Para mim, são guerreiras. Todos os dias, elas saem e lutam para fazer a diferença." E ela testemunhou as mudanças.
"Não importa o que você faça, não seja indiferente às necessidades dos outros."
Ela lembra da visita à dona de uma empresa de cerâmica na Nicarágua. Essa mulher contou para Carmen sobre as cadeiras novas que tinha comprado com o apoio da Pro Mujer: "Ela explicou como o empréstimo permitiu que desenvolvesse o próprio negócio. É uma microempresa, mas é a fonte de sustento que permite alimentar a família dela. Comprando essas cadeiras, ela melhorou o estilo de vida".
Passar tempo com essas mulheres e ouvir as histórias delas é um bom lembrete de que algo relativamente pequeno pode gerar um grande impacto. É uma lição que ela sempre carrega, mas também oferece a outras pessoas: "Não importa o que você faça, não seja indiferente às necessidades dos outros".
Foto de Gabriella Rouiller
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John Callery
Uso da tecnologia para fortalecer a saúde mental da comunidade
Para algumas pessoas, a tecnologia e a saúde mental talvez pareçam uma combinação estranha. No entanto, John Callery observa uma oportunidade na inteligência artificial para ajudar os humanos a se apoiarem em tempos de crise. Como diretor de produtos e tecnologia da ReflexAI, ele leva tecnologias que salvam vidas a mais pessoas.
Leitura em cinco minutos
John Callery sempre teve uma quedinha pela tecnologia. "Meu interesse por tecnologia e computadores começou quando eu era bem jovem." Ele se lembra dos dias de colégio com gratidão. "Tive a sorte de estudar em um colégio interno em Santa Bárbara. Foi um ambiente único em que eu pude testar coisas interessantes em pequena escala." Seja consertando o computador de um colega ou criando servidores para hospedar projetos de outros alunos, ele sempre gostou de trabalhar com tecnologia.
Não foi surpresa alguma quando ele decidiu levar sua paixão para o mundo dos negócios. Ainda no ensino médio, John teve a ideia de fundar uma empresa de hospedagem de e-commerce na Web. "Eu tinha cerca de 500 clientes no mundo todo. A empresa não faturava milhões de dólares, mas cobria muitas das minhas despesas na época." Apesar de John não ter percebido anos atrás, a experiência que ele adquiriu também fez valer a pena.
A descoberta da paixão pela mudança social
Após se formar na Universidade de San Diego, John começou a trabalhar na instituição como desenvolvedor da Web. Esse lugar é muito especial para John, porque foi no refeitório da universidade que ele conheceu o noivo. Josh também trabalhava na universidade e era voluntário do The Trevor Project, uma organização sem fins lucrativos com foco no apoio a crises e prevenção de suicídio de jovens LGBTQ+. "Josh estava ajudando no serviço de chat e mensagens de texto, e fiquei muito interessado no trabalho dele."
"Tenho a sorte de ter uma rede de apoio forte e isso teve um grande impacto na minha jornada até hoje. Sempre pude pedir ajuda se precisasse." No entanto, John sabe que muitos não têm essa experiência e muitas pessoas não sabem como ajudar quando alguém precisa.
The Trevor Project rapidamente se tornou uma paixão. Começando como voluntário, John acabou se tornando vice-presidente sênior da organização. "Foi uma oportunidade incrível de aplicar tudo o que aprendi no setor privado em um ambiente sem fins lucrativos."
"Estamos compartilhando diretamente com os veteranos alguns princípios de treinamento que oferecemos aos conselheiros de crise, para que eles possam se apoiar melhor."
Foi essa posição que o aproximou das iniciativas do Google, como o Google.org Fellowship e o Desafio de Impacto de IA, além de uma colaboração com o futuro cofundador da ReflexAI, Sam Dorison. "Juntos, supervisionamos a conceituação e o desenvolvimento de um modelo de triagem de IA que prioriza jovens com maior risco de crise aguda de saúde mental para falar com os conselheiros o mais rápido possível." No entanto, houve um avanço ainda maior depois de mostrar como os mais novos modelos de linguagem grandes poderiam ajudar a resolver um problema ainda mais impactante. Em vez de apenas otimizar a prioridade, John e a equipe passaram a se concentrar no treinamento e na inclusão de mais conselheiros no sistema.
Para integrar todos os conselheiros necessários, eles teriam de contratar centenas de coordenadores para agendar e realizar treinamentos com cada novo voluntário, o que não era tão prático. "Começamos a usar modelos de linguagem grandes para simular uma conversa de treinamento com um jovem em crise e integrar mais conselheiros de forma mais rápida." Atualmente, as personas que eles criaram já treinaram milhares de voluntários.
Uso da tecnologia para apoiar veteranos
Até o momento, ficou claro que essa abordagem tem um grande impacto, e John e Sam viram uma oportunidade de expandir essa experiência ainda mais. "Estávamos procurando maneiras de usar essa tecnologia em outras áreas. Quando ficamos sabendo do desafio Mission Daybreak da VA, inscrevemos nossa ideia de usar um tipo de treinamento semelhante para ampliar a Veteran Crisis Line."
A comunidade de veteranos tem uma necessidade profunda de ferramentas e treinamentos de prevenção de suicídio. De acordo com a VA, houve 6.146 suicídios de veteranos em 2020. Embora os números estejam diminuindo lentamente ano após ano, a taxa de suicídio de veteranos ainda é 57,3% maior do que a dos demais adultos americanos.
"Durante o Daybreak, entrevistamos dezenas de veteranos e ouvimos esse tema de que os veteranos geralmente recorrem uns aos outros em momentos de crise." A combinação desses novos insights com experiências passadas deu origem à ReflexAI. John explica: "Estamos compartilhando diretamente com os veteranos alguns princípios de treinamento que oferecemos aos conselheiros de crise, para que eles possam se apoiar melhor".
A ReflexAI está trabalhando para expandir o leque de organizações que podem se beneficiar dessas ferramentas. "Os modelos de linguagem grandes estão sendo muito comentados pela imprensa, mas essa revolução pode ter um impacto muito maior em áreas críticas como saúde, intervenção em crises e serviços de emergência. Por isso criamos a Reflex."
Mais comunidades necessitadas
Essa abordagem comunitária em relação à saúde mental é a base do trabalho de John, e ele quer expandir essa experiência para mais comunidades no futuro. No contexto geral, John observa um avanço. "As questões de saúde mental desafiam todos nós atualmente. Recentemente nossa sociedade teve algumas conversas positivas sobre saúde mental, mas é preciso fazer mais para acabar com o estigma."
No entanto, apesar dos sucessos, ele também vê as necessidades. "As interações remotas estão cada vez mais comuns, e o Lifeline 988 é um exemplo dessa expansão, superando as expectativas de crescimento. Um relatório da Agência de Serviços em Abuso de Substâncias e Saúde Mental dos Estados Unidos mostrou que, em dezembro de 2022, o número de ligações atendidas pela central de apoio aumentou 48%, os chats respondidos aumentaram 263% e as mensagens de texto respondidas tiveram um aumento impressionante de 1.445% em comparação a dezembro de 2021." As pessoas entram em contato pedindo ajuda, e a ReflexAI está pronta para intervir.
Fotografia de Alex Palumbo
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Kristian Rönn
Contabilidade para o futuro do planeta
A missão de Kristian Rönn é permitir que as empresas meçam, gerenciem e reduzam as emissões de carbono. Com uma mente rápida e filosófica, ele está reformulando a maneira como pensamos sobre práticas de negócios responsáveis nos tempos atuais. Como cofundador e CEO da Normative, ele também cria ferramentas para responsabilizar empresas de todos os tamanhos e oferece meios para agir.
Leitura em cinco minutos
Quando apresenta a empresa, Kristian Rönn explica que o nome Normative reflete a nova norma de contabilidade de carbono que eles estão desenvolvendo. É uma história incrível e verdadeira. Mas, se você quiser se aprofundar, Kristian vai dizer também que o nome remete à área da filosofia que trata de como alguém deve se comportar moralmente: a Ética Normativa.
"Sempre levei muito a sério viver de acordo com meus valores." Kristian se lembra de quando era criança e visitou um pequeno zoológico no interior da Suécia. "A certa altura, eu percebi que a carne que comemos vem de animais como aqueles, e meu consumo contribui para o sofrimento deles." Após pesquisar muito na Internet, ele conseguiu articular a própria filosofia de vida: "O que mais valorizo é maximizar o bem-estar de todos os seres sencientes".
A Internet e a filosofia abriram os olhos dele para novas formas de pensar sobre o mundo. Indo de matemática e física a política e ética, ele sempre foi curioso. "Foi uma revelação para mim perceber que as ações que fazemos hoje vão afetar o bem-estar de bilhões de pessoas no futuro."
Da ideia à ação
Determinado a gerar um impacto positivo nas gerações futuras, Kristian foi para a universidade, onde começou a estudar ciências políticas. No entanto, logo ficou claro que a área não era para ele. "Fiz o curso introdutório de praticamente tudo, mas não fiquei satisfeito." Por fim, ele escolheu se concentrar em matemática e filosofia: "Filosofia porque ela faz perguntas sobre o que queremos otimizar na sociedade, matemática porque trata de como realizamos essa otimização".
Esse equilíbrio entre abstração e ação o levou longe: até a Universidade de Oxford. Depois de se formar, ele ingressou no Future of Humanity Institute, um centro de pesquisa que aborda questões fundamentais sobre a civilização humana. Lá ele viu os resultados catastróficos da crise climática e decidiu que precisava agir. "Eu queria oferecer insights úteis aos líderes relevantes no momento da tomada de decisão."
Com metas climáticas claras definidas na época, ele pensou: "Deve haver uma maneira de as empresas contabilizarem as emissões de carbono de forma semelhante a como elas fazem com números financeiros. No entanto, isso não existia. Eu queria começar esse projeto, embora não tivesse quase nenhuma experiência em abrir uma empresa ou no desenvolvimento de software".
Desenvolvimento da nova norma
A Normative é o primeiro mecanismo de contabilidade de carbono do mundo. Ela representa a última geração de contabilidade de carbono e redefine o "propósito das partes interessadas" como o bem-estar e a longevidade da civilização, e não apenas o lucro. A empresa nasceu das grandes ideias de Kristian sobre a resposta climática da sociedade e a mecânica da contabilidade. "No final das contas, a contabilidade é uma ficção. Acreditamos que as sociedades são construídas em torno da maximização do lucro. No entanto, todo o conceito de lucro é criado sobre uma aritmética arbitrária e pode ser redefinido."
É essa redefinição que eles estão fazendo. "Na Normative, ajudamos as empresas a contabilizar a pegada de carbono e oferecemos informações úteis para elas alcançarem zero emissão de carbono" Podemos dizer que eles estão no caminho. Com a Business Carbon Calculator, a Normative ajudou mais de 2.600 pequenas e médias empresas a calcular as emissões e mediu mais de 7,2 milhões de toneladas de CO2e em 80 países. Em muitos casos, isso envolve a automatização da análise de milhões de faturas para gerar uma imagem precisa das emissões da empresa. Os dados mostram às empresas quais categorias e fornecedores têm maior impacto climático, para que possam priorizar as atividades para melhorar essas áreas.
"Sabemos que as sociedades são construídas em torno da maximização do lucro. No entanto, todo o conceito de lucro pode ser redefinido."
A contabilidade de carbono meticulosa é fundamental, porque eles observaram que as empresas não informam as próprias emissões com precisão. "Há uma lacuna de precisão entre 40 e 80%, o que significa que muitas metas líquidas zero das empresas são baseadas em apenas um décimo das pegadas de carbono gerais."
Isso é um fator preocupante: "Temo que, em 20 anos, vamos ter empresas afirmando ser carbono zero ou neutras, mas ainda vamos observar o aumento das emissões globais".
O caminho para o zero líquido
Precisão e padronização são os próximos grandes desafios no caminho para o zero líquido. Embora as Nações Unidas e os países membros estejam comprometidos com novos regulamentos, Kristian explica que os governos também precisam definir padrões de precisão.
"No momento, muitos regulamentos de divulgação de carbono estão sendo criados." No entanto, segundo ele, "para que esses dados sejam úteis, precisamos de uma contabilidade de carbono padronizada. Não basta ter divulgações padronizadas. Na situação atual, padronizamos o equivalente ao demonstrativo de lucros e perdas, mas não inventamos a escrituração contábil em partidas dobradas, que gera resultados comparáveis".
Segundo Kristian, "uma das ofertas exclusivas da Normative é que somos mais precisos do que todos os outros. Se os governos definirem o padrão de precisão, todos vão ser precisos igualmente. Eu gostaria de viver nesse mundo".
Fotografia de Yamandu Roos
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